Bullying Escolar - Uma visão Espírita
Todas as crianças e adolescentes têm direito a escolas onde existam alegria, amizade, solidariedade e respeito às características individuais de cada um deles – Aramis Antonio Lopes Neto
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Neste artigo vamos abordar uma das formas de assedio moral, o bullying escolar, prática cada vez mais frequente nas escolas, e que vem causando grandes transtornos nas vidas das vítimas desse processo.
A prática de bullying começou a ser pesquisada há cerca de 12 anos na Europa, quando descobriram que essa forma de violência estava por trás de muitas tentativas de suicídios de adolescentes.
Não temos a pretensão de esgotar o tema, mas apenas e sobretudo lançar um pouco de luz num assunto tão importante, e alertar para esta prática tão desumana da nossa sociedade. Não resta dúvida que o mundo atual encontra-se enfermo, e a ética está abandonada por grande parte da população, resultando em comportamentos cuja tônica é o egoísmo.
Trata-se de forma de exclusão escolar e por extensão social, perversa e cruel, já que, normalmente, colegas de escola frequentam muitas vezes os mesmo lugares, tais como cursinhos de inglês, academias de ginástica, shopping centers, e festinhas; estando em contato certamente grande parte do dia, inclusive fora das escolas. [...]
O que viria a ser o bullying escolar? Seria quando um grupo de colegas de uma mesma escola, frequentemente da mesma turma, promove uma segregação, de forma repetitiva, tentando isolar um dos membros da turma, seja este membro rapaz ou moça, de forma que este fique isolado e sem ambiente na turma, o que gera muitas vezes na vítima, depressão, apatia, falta de motivação, baixa do rendimento escolar, falta de apetite e tendência ao isolamento (passa a não ter prazer em sair de casa ou a se relacionar com as pessoas) e vontade de trocar de escola.
A motivação para essa conduta tem muitas causas, mas poderíamos relacionar algumas que nos parecem as mais freqüentes: busca de poder no grupo (necessidade de dominar), egoísmo, vaidade, sedução, insegurança, necessidade de chamar a atenção para si, segregação racial, segregação de classe social (aluno bolsista), etc.
A forma de execução do bullying acontece de muitas maneiras, sendo frequente entre os rapazes o uso da força física ou psicológica e da intimidação, e entre as moças a mentira, a fofoca, a maledicência, e a difamação; todas de forma orquestrada, ou seja, de comum acordo e planejadas pelo grupo agressor, para desacreditar a vítima, de forma progressiva, numa atitude de franca antipatia, muitas vezes ignorando a vítima nos ambientes que ela frequenta, como se ela não existisse, levando essa vítima a um stress com os sintomas relacionados acima, demonstrando a que nível de perversão alguns adolescentes estão chegando. [...]
Estudos demonstraram que a média de idade de maior incidência entre os agressores, situa-se na casa dos 13 a 14 anos, estando presente entretanto com frequência até os 19 anos. A grande maioria, ou seja, 69,3% dos jovens admitiram não saber as razões que levam à ocorrência de bullying.
Muitas vezes os colegas percebem a situação, mas por medo se omitem, pois temem ser a próxima vítima.
Não resta dúvida de que este tipo de conduta retrata um grande apego às coisas materiais e, por extensão, afastamento da religião de uma forma geral, ou seja, estes alunos, na sua grande maioria, não possuem crença religiosa, estando movidos na luta pelas aquisições materiais principalmente, já que desconhecem a vida espiritual. [...]
Na pergunta 755 de "O Livro dos Espíritos" Kardec interroga os espíritos: "Como pode dar-se que no seio da mais adiantada civilização, se encontrem seres às vezes tão cruéis quanto os selvagens?
Do mesmo modo que numa árvore carregada de bons frutos se encontram frutos estragados. São, se quiseres, selvagens que da civilização só tem a aparência, lobos extraviados em meio de cordeiros. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados podem encarnar entre homens adiantados, na expectativa de também se adiantarem; contudo, se a prova for muito pesada, vai predominar a natureza primitiva".
Todos sabemos que a criança para o seu pleno desenvolvimento necessita sentir-se amada, valorizada, aceita, incentivada à auto-expressão e ao diálogo, incentivada à prática religiosa, principalmente na adolescência, porém a noção de limites precisa e deve ser estabelecida com firmeza e sobretudo com coerência. Mas observa-se, na sociedade atual, crianças as quais são criadas dentro de padrões de liberabilidade excessiva, sem limites, sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor; estas serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens.
É importante observar, que num mundo com tantas mazelas como o nosso, pode ser possível que, algumas vezes, os pais percebam o bullying praticado pelos filhos, mas façam vista grossa, por perceberem que a prática do filho pode estar rendendo-lhe algum tipo de vantagem, o que torna o ato mais desumano ainda, pois estaria presente a conivência paterna. Tal ato poderia ser facilmente explicado pela falta de ética e educação dos referidos pais, fato tão comum nos dias atuais.
Devemos ressaltar que o apoio da família, neste momento, é fundamental, entretanto é necessário ter prudência, pois num primeiro momento o sentimento que predomina é o da retaliação, ou mesmo da vingança. Mas a Doutrina Espírita nos ensina que violência gera violência ou que ódio gera mais ódio ainda, lembrando a frase do Apóstolo Paulo de Tarso: "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém".
Devemos procurar os professores da turma em questão e colocar o ocorrido, de forma serena, mas com firmeza, numa tentativa de amenizar a situação, o que nem sempre é fácil, se não houver a participação de pais, professores e funcionários, em virtude dos traumas e das humilhações já vivenciadas, algumas vezes uma troca de turma numa mesma escola já pode ajudar. Podemos ainda incentivar o convício com outros colegas, com os quais essas crianças não tinham convívio ainda, às vezes até por falta de oportunidade. Devemos ainda, caso a criança encontre-se deprimida, lançar mão da ajuda de um profissional, como um psicólogo, ou mesmo de uma Casa Espírita para ajudar na recuperação desta criança, facilitando assim sua reintegração na escola. [...]
Lidar com as adversidades da vida requer vontade, fé, serenidade e coragem, lembrando ainda que: "A vontade é a mola do mundo, mas o amor é a manivela", e relembrando Joanna de Ângelis "Só o amor transforma conhecimento em sabedoria".
E, para encerrar, como espíritas devemos estar sempre atentos para os atos de nossos filhos, para que não façam aos outros, o que não gostariam que lhes fizessem. Podemos nos basear no exemplo de Eurípedes Barsanulfo que, em sua escola Espírita em Sacramento, a primeira do Brasil, no início do século XX, dizia que não se satisfazia em criar cidadãos para a sociedade, mas que procurava criar filhos de Deus. A explicação é simples: filhos de Deus respeitam tudo que é criação de Deus, são portanto, éticos e ecologicamente corretos, pois são incapazes de destruir o que Deus criou, respeitando assim a natureza e os seus semelhantes.
Revista Internacional de Espiritismo
Fevereiro de 2008
Edgar Diaz de Abreu